A Tribute to Winnie Mandela

Winnie Mandela passed away April 2nd, 2018. Here is a note, and tribute, by the Pan-Africanist school in Brazil that was named after her.

English Translation here.

NOTA DA REAJA

À GRANDE RAINHA AFRICANA WINNIE MANDELA, NOSSO FAROL.

 “Para alimentar a luta, tinha de me expor à violência e à brutalidade do apartheid.”
Winnie Mandela

Winnie Madikizela-Mandela representou e representará para nós da Reaja, um farol, uma importante referência a qual nos mostra caminhos para uma prática de defesa dos interesses do nossos povo em meio a um tempo de miragens tecnológicas e traições políticas do propósito da luta negra no Brasil.

Winnie Mandela, o imponente nome que daos ao nosso quilombo de libertação forjado por pretos e pretas conscientes de sua história político racial se materializa pela nossa coragem de erigir um território livre de qualquer violência a qual o povo preto sempre esteve imerso. Seguimos com nossas próprias condições, construindo teoria a partir de nossas vidas e mortes, desgraça, servidão, drogas e ignorância, mas sobretudo a partir de práticas de resistência e libertação negra.

A nossa luta política é baseada em serviços comunitários e efetivo enfrentamento ao poder que tenta a todo custo nos eliminar da face da terra e diminuir nossa humanidade, nos utilizando como capachos e serviçais de pautas e propósitos que não nos pertencem, de lutas que não garantirão nossa libertação coletiva. Winnie Mandela acende em nós todos os dias o compromisso de construirmos um projeto de libertação de nosso povo. Winnie Madikizela Mandela é nossa mais pura inspiração.

Winnie Madikizela-Mandela que nos confiou seu nome e sua trajetória para imortalizarmos na história segue firme e intacta em nossas mentes, corpos pretos, braços e pernas que trabalham arduamente dia após dia, nas madrugadas ou no sol escaldante das tardes da cidade túmulo. Militantes envoltos em um sonho coletivo de resgate de nossa autonomia enquanto povo, de nossa independência política sem a tutela de brancos acadêmicos ditando o que devemos ser ou fazer, de nossa autodeterminação sem vagos momentos ociosos, de solidariedade entre nós pretos e pretas.

Nossa Escola de Formação Quilombista e Panafricanista é o núcleo mais avançado de nossa ação, junto com o Núcleo de Familiares de Vítimas do Estado, Núcleo de Familiares e Amigos de Presos e Presas, e nossas ações permanentes de solidariedade e autodefesa. Agora que a Mãe da nação africana volta a sua massa de origem, devemos honrar ainda mais sua história de vida totalmente dedicada a luta de libertação africana.

Em toda sua trajetória política Winnie Madikizela-Mandela jamais recuou de seu dever histórico de enfrentar as forças do apartheid em Soweto, onde nos anos 70 os jovens estudantes negros e negras protagonizaram o mais importante levante contra a opressão branca na África do Sul. A luta e a oposição desses estudantes baseava-se nas péssimas condições de educação, na educação de última categoria dedicada aos africanos e na violência cotidiana. Os jovens foram as ruas e enfrentaram balas com pedras, gritos e cantos tradicionais. Impulsionando e criando toda esta força, estava Winnie Mandela.

Ela é a senhora maior da 4° Internacional Garveista, da qual somos filiadas. Ela é a grande Mãe da rebelião preta em todo mundo. Seu pensamento e sua prática política tem nos animado desde becos e vielas e cadeias e favelas onde combatemos a continuidade perversa da escravização.

Aprendemos com sua luta interminável de libertação que devemos proceder honrando nossos princípios de guerra contra a supremacia branca. Ela nos ensinou que a luta é contínua e regada a muita dor e sangue de ambos os lados, de inimigos e de lutadores radicais dispostos a dar a vida pela conquista de um pedaço de terra ou a libertação de um irmão encarcerado nas catacumbas do sistema prisional ou do acalanto de uma mãe que grita pela perda de seu filho. Somos combatentes dispostas a retomar toda a glória dos tempos áureos das terras negras africanas.

Estamos formando um exército preto de mulheres e homens capazes de reconhecer na sua comunidade o espelho necessário para erguer novas estruturas e instituições com nossos métodos de luta real, com bases em ação comunitária em todos os lugares onde o nosso povo se encontra.

Seguimos atentas e atentos as armadilhas de nossos inimigos. Estamos na disposição para devastar a linha auxiliar a qualquer custo. Não negociamos nossas dores como uma mercadoria barata do período colonial, não barganhamos migalhas usando nossas dores e nossos mortos e história como meros ratos lotados em cargos de governo a espera de cadeiras vagas. Somos a rua, a cadeia, os becos, a noite. Guiamos nossa esperança através do sangue bruto derramado no barro quente sob nossos pés. Suamos como operários escultores de nossa liberdade. Sonhamos com nosso lar repleto de gente preta livre, mas acima de tudo projetamos a edificação de um império sólido cravado na rocha profunda com as insígnias eternas de “Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto”.

Salvador, abril de 2018.


Translation

NOTE FROM THE POLITICAL ORGANIZATION REACT OR DIE

TO THE GREAT AFRICAN QUEEN WINNIE MANDELA, OUR BEACON.

“To fuel the struggle, I had to expose myself to the violence and brutality of apartheid.”
Winnie Mandela

Winnie Madikizela-Mandela represented and will represent to us at Reaja (React or Die), a beacon, an important reference which shows us ways to a practice of defending the interests of our people, in a time of technological mirages and political betrayals of the purpose of the black struggle in Brazil.

Winnie Mandela, the imposing name we give to our quilombo of liberation, forged by blacks conscious of their racial-political history, is materialized by our courage to build a territory free of any violence, which black people have always been immersed in. We continue with our own conditions, building theory from our lives and deaths, disgrace, servitude, drugs and ignorance, but especially from practices of resistance and black liberation.

Our political struggle is based on communitarian services and effective confrontation with the power that tries at all costs to eliminate us from the face of the earth, and to diminish our humanity, using us as mats and servants of interests and agendas that are not ours, of struggles that will not guarantee our collective liberation. Winnie Mandela shines a light every day at the commitment to build a project of liberation of our people. Winnie Madikizela Mandela is our purest inspiration.

Winnie Madikizela-Mandela, who entrusted us with her name and her journey, is immortalized in history and follows steadily and intact in our minds, black bodies, arms and legs that work hard day after day till dawn, at the scorching sun of the tomb town afternoons. Militants enveloped in a collective dream of rescuing our autonomy as people, of our political independence, without the tutelage of white academics dictating what we should be or do, of our self-determination without vague idle moments, of solidarity between us black people.

Our Quilombist and Panafricanist Training School is the most advanced nucleus of our action, together with the Nucleus of Relatives of Victims of the State, Nucleus of Family and Friends of Prisoners (ASFAP-Bahia), and our permanent actions of solidarity and self-defense. Now that the Mother of the African nation returns to her place of origin, we must honor even more her life story, which was so completely dedicated to the African liberation struggle.

Throughout her political career, Winnie Madikizela-Mandela never backed down from her historic duty to confront the forces of apartheid in Soweto, where in the 1970s young black students staged the most important uprising against white oppression in South Africa. The opposition of these students was based on the poor conditions of education, the last-category education dedicated to Africans, and daily violence. The youth went to the streets and faced bullets with rocks, shouts, and traditional songs. Boosting and creating all this force was Winnie Mandela.

She is the senior lady of the 4th Garveyst International, of which we are affiliated. She is the great Mother of black rebellion in the whole world. Her thinking and her political practice has animated us from alleys and favelas, prisons and chains, where we fight the perverse continuity of enslavement.

We learn from her endless struggle for liberation that we must proceed by honoring our principles of war against white supremacy. She taught us that the struggle is continuous and watered with much pain and blood on both sides, from enemies and radical fighters willing to give their lives for the conquest of a piece of land, or the release of an imprisoned brother in the catacombs of the prison system, or the lullaby of a mother screaming over the loss of her child. We are fighters ready to take back all the glory of the golden times of the black African lands.

We are forming a black army of women and men capable of recognizing in their community the mirror necessary to erect new structures and institutions with our methods of true fight, grounded in community action wherever our people find themselves.

We remain attentive to the traps of our enemies. We are willing to devastate aid-routes at any cost. We do not trade our pains as cheap merchandise from the colonial period, we do not bargain for crumbs using our pains, and our dead, and history, as mere rats crowded into government offices waiting for vacant seats. We are the street, the chain, the alleys, the night. We guide our hope through the raw blood spilled in the hot clay under our feet. We sweat like working sculptors of our freedom. We dream of our home full of free black people, but most of all, we project the building of a solid empire embedded in the deep rock with the eternal insignia of “React or Die”.

Salvador, Brazil – April 2018.

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